Nos primórdios dos anos 90, quando a jogatina no PC ainda engatinhava e a ID Software preparava o terreno para dominar o mundo dos games, um jovem gênio de oito anos com capacete de futebol americano e um pogo-stick apareceu para salvar a galáxia mais uma vez. Commander Keen 4: Secret of the Oracle, lançado em 1991, marcou um salto técnico e criativo para a franquia, tornando-se um dos maiores clássicos dos jogos de plataforma para MS-DOS.

Criado pela lendária dupla John Carmack e John Romero, que anos depois trariam ao mundo Doom e Quake, o jogo foi publicado pela Apogee Software e é considerado um dos melhores capítulos da saga de Billy Blaze, o alter ego de Commander Keen. Esse era o primeiro jogo da nova saga Goodbye Galaxy, sequência da trilogia inicial Invasion of the Vorticons (1990), e trouxe avanços gráficos e mecânicos que solidificaram a ID Software como referência no mercado.

Enquanto outros jogos da época tentavam criar experiências de plataforma no PC com controles pouco responsivos, Keen 4 trouxe um gameplay fluido, um mundo colorido e repleto de segredos, além do icônico pulo com pogo-stick, um recurso que se tornaria marca registrada da série.

Mas será que Goodbye Galaxy! ainda se sustenta depois de mais de três décadas? Pegue seu capacete, ajuste seus óculos e venha descobrir nesta review!

Abandonware: Quando os Clássicos se Recusam a Morrer

Se você nasceu depois dos anos 90 ou não teve um PC equipado com um barulhento speaker interno, pode estar se perguntando: como jogar Commander Keen 4 hoje em dia? A resposta está em um conceito conhecido como Abandonware, que se refere a softwares antigos, muitas vezes não mais comercializados ou suportados pelas empresas, mas que continuam vivos graças a fãs e comunidades dedicadas.

Lançado originalmente para MS-DOS, Commander Keen 4 pode ser jogado facilmente em PCs modernos com a ajuda de emuladores como o DOSBox ou até versões compatíveis disponíveis online. Isso permite que novos jogadores experimentem essa relíquia da ID Software e veteranos matem a saudade dos tempos em que os jogos vinham em disquetes e a maior preocupação era ajustar a quantidade de memória convencional no CONFIG.SYS.

Mas o que faz Keen 4 valer a pena até hoje? Para entender isso, precisamos falar sobre seu enredo e sua jogabilidade inovadora para a época.

Um Pequeno Gênio e um Grande Mistério Galáctico

Diferente de muitos jogos de plataforma da época que seguiam um esquema linear de fases, Commander Keen 4 apostou em um mundo semiaberto, onde o jogador pode explorar um mapa interconectado, escolhendo a ordem em que deseja enfrentar os desafios. Esse conceito, embora primitivo, já antecipava tendências que veríamos mais tarde em franquias como Metroid e Shovel Knight.

O enredo coloca Billy Blaze, o menino prodígio de oito anos, em uma nova missão intergaláctica. Depois de salvar a Terra na trilogia anterior, ele intercepta uma mensagem sobre uma raça misteriosa chamada Oracles of Gnosticus, que foi sequestrada pelos nefastos Shikadi, alienígenas que planejam destruir a galáxia. Cabe a Keen resgatá-los e impedir o plano maligno, explorando o planeta Gnosticus IV e seus arredores.

O jogo mistura plataforma clássica com exploração não linear, permitindo que o jogador escolha seu caminho, revisite áreas e descubra segredos escondidos. Além disso, as fases possuem saídas alternativas e desafios opcionais, tornando a experiência menos engessada do que os jogos típicos do gênero na época.

Com um arsenal que inclui uma pistola de atordoamento e o icônico pogo-stick, Keen precisa saltar entre plataformas, evitar armadilhas e enfrentar inimigos como Sluggs, Poison Slugs e Mad Mushrooms em um mundo repleto de vida e cores vibrantes, algo raro para jogos de PC no início dos anos 90.

Primeira fase: Escolha óbvia de floresta

Jogabilidade – Saltos, Pogo e Precisão no Teclado

Se há um motivo para Commander Keen 4 ser lembrado com tanto carinho, com certeza é sua jogabilidade. Enquanto muitos jogos de plataforma tentavam encontrar um jeito de funcionar nos computadores da época (geralmente de forma desajeitada), a ID Software entregou um controle preciso e fluido que fazia parecer que você estava jogando um game de console no PC.

Os comandos são simples, mas bem responsivos. Keen pode andar, pular, atirar com sua pistola de atordoamento e ativar seu pogo-stick, que permite alcançar plataformas mais altas e até evitar inimigos estrategicamente. O uso do pogo requer timing, pois Keen quica sem controle total, o que adiciona uma camada extra de desafio.

A dificuldade é equilibrada: o jogo oferece três níveis de dificuldade e apresenta desafios progressivos. Algumas fases são bem fáceis, enquanto outras exigem habilidade e paciência. Os inimigos possuem padrões de movimento distintos, e o jogo conta com muitos elementos de plataforma clássica, como espinhos, plataformas móveis e caminhos secretos.

Outro ponto interessante é a exploração. Como mencionado antes, Keen pode escolher qual fase jogar primeiro, e muitas delas escondem salas secretas cheias de pontos extras e vidas. Isso incentiva os jogadores a refazer fases e explorar cada canto do mapa.

Se há um pequeno problema na jogabilidade, é que a física pode ser um pouco “escorregadia” em algumas superfícies, exigindo mais precisão nos pulos. Mas, no geral, o controle é excelente para um jogo de PC da época.

Gráficos – Um Festival de Cores no DOS

Para um jogo de 1991, Commander Keen 4 é surpreendentemente bonito. Os gráficos são vibrantes, cheios de detalhes e ricos em variações de cores, o que não era muito comum em títulos de DOS.

Cada fase tem uma identidade visual única, desde cavernas escuras e florestas coloridas até templos alienígenas e passagens subterrâneas. Os sprites dos inimigos são bem desenhados e animados, dando vida ao mundo de Gnosticus IV.

A interface é minimalista e funcional. Nada de poluição visual, apenas informações essenciais, como a quantidade de balas, vidas e o icônico capacete de Keen piscando no canto da tela.

Comparado a outros jogos da época, Keen 4 mostrava o potencial do EGA de 16 cores, enquanto muitos títulos ainda se limitavam a gráficos simplistas. Ele foi um dos primeiros jogos de plataforma para PC que realmente parecia um game de console, algo que a ID Software aperfeiçoaria ainda mais em títulos futuros.

Mapa de seleção de fase

Som – O Speaker Interno Não Faz Milagres

Aqui chegamos ao calcanhar de Aquiles de Commander Keen 4. Embora o jogo tenha uma trilha sonora decente, composta por Bobby Prince (o mesmo que mais tarde criaria as trilhas de Doom e Duke Nukem 3D), ela não brilha tanto quanto o resto do jogo.

O motivo? O jogo foi projetado para rodar na maioria dos PCs da época, que não tinham placas de som dedicadas. Se você jogava sem um kit multimídia, toda a experiência sonora se resumia aos famigerados beeps e boops do PC Speaker interno, que não faziam justiça às composições.

Os efeitos sonoros também são bastante simples. Inimigos fazem sons estranhos ao serem atingidos, Keen emite um “ploc” ao pular, e os tiros da pistola lembram mais o som de um micro-ondas do que uma arma intergaláctica.

Claro, se você tinha um Sound Blaster ou outro hardware de som avançado, a experiência melhorava um pouco, mas a maioria dos jogadores teve que encarar o game com sons rudimentares. Não chega a estragar o jogo, mas é um aspecto que envelheceu mal em comparação com os gráficos e a jogabilidade.

Diversão – Um Jogo Inventivo Que Envelheceu Muito Bem

Se Commander Keen 4 ainda é jogado hoje, é porque continua divertido. A ID Software conseguiu criar um jogo de plataforma que não se leva tão a sério e está repleto de momentos engraçados e desafiadores.

As fases são variadas e possuem temáticas diferentes, incluindo florestas, cavernas, templos e bases alienígenas. Cada uma apresenta novos inimigos, obstáculos e mecânicas, mantendo o jogo sempre fresco.

O fator replay é alto, pois existem muitos segredos escondidos, como salas secretas cheias de vidas, itens e até mensagens engraçadas da equipe de desenvolvimento. Além disso, tentar completar o jogo sem morrer ou em um nível de dificuldade mais alto adiciona um desafio extra.

Outro detalhe divertido são os elementos cômicos do jogo. Keen dança quando fica parado por muito tempo, os inimigos possuem designs engraçados e as cutscenes contam a história com muito bom humor.

Se você gosta de jogos de plataforma clássicos e nunca jogou Commander Keen 4, vale a pena experimentar. Ele continua sendo um dos melhores exemplos de como um jogo simples pode ser criativo, divertido e desafiador ao mesmo tempo.

Carismático, e um tanto pálido, o nosso protagonista não?

Recepção Crítica no Lançamento – Aclamado como um Marco dos Jogos de PC

No início dos anos 90, a série Commander Keen já havia estabelecido uma reputação positiva entre os jogadores de PC, mas foi com o lançamento de Commander Keen 4: Secret of the Oracle que a franquia atingiu um novo patamar de reconhecimento. O jogo foi amplamente elogiado por críticos e jogadores, destacando-se como um marco nos jogos de plataforma para PC.

Gráficos e Animações

Uma das áreas mais elogiadas foi a melhoria gráfica em relação aos títulos anteriores. A introdução de um novo motor gráfico permitiu visuais mais detalhados e animações mais suaves. Críticos notaram que os gráficos eram superiores aos de muitos outros jogos da época, contribuindo para uma experiência visual mais envolvente.

Jogabilidade e Design de Níveis

A jogabilidade refinada e o design de níveis inventivo também foram pontos altos nas avaliações. A introdução de novas mecânicas, como a habilidade de Keen se agarrar a bordas e a inclusão de níveis com temáticas variadas, adicionou profundidade ao jogo. Essa diversidade manteve os jogadores engajados e incentivou a exploração, aspectos que foram amplamente apreciados.

Desempenho Comercial e Legado

Além da aclamação crítica, Keen 4 teve um desempenho comercial sólido, consolidando ainda mais a posição da ID Software como uma desenvolvedora inovadora no mercado de jogos para PC. O sucesso deste título contribuiu para o legado duradouro da série Commander Keen, que continua a ser lembrada com carinho por fãs e é frequentemente citada como uma influência significativa em jogos de plataforma subsequentes.

Em resumo, Commander Keen 4: Secret of the Oracle foi recebido com entusiasmo tanto pela crítica quanto pelo público, sendo considerado um avanço significativo na série e um exemplo brilhante de design de jogos de plataforma para PC no início dos anos 90.

Cenários bem trabalhados e variedade de inimigos

Conclusão – Um Clássico Que Merece Ser Jogado

Mais de 30 anos depois, Commander Keen 4 ainda se destaca como um dos melhores jogos de plataforma do PC. Com jogabilidade fluida, gráficos vibrantes e um nível de exploração raro para a época, ele provou que os computadores também podiam oferecer grandes aventuras de plataforma.

Embora o som não seja seu ponto forte, o resto do jogo compensa com fases variadas, segredos escondidos e um toque de humor que o torna memorável. Se você nunca jogou ou quer revisitar esse clássico, aproveite que ele pode ser facilmente encontrado na internet e jogado em qualquer PC moderno.

E quem sabe, algum dia a ID Software resolva trazer Billy Blaze de volta? Até lá, seguimos saltando de pogo-stick pelos confins da galáxia! 🚀