O mês era março, o ano 1991 e o lugar era o Hospital Beneficência Portuguesa em São Caetano do Sul no grande ABC em SP. Sim! Eu estava internado. No alto (não muito porque sempre fui baixinho) dos meus nove anos de idade. Estava prestes a passar pela terceira cirurgia no braço esquerdo em decorrência de uma segunda fratura exposta em menos de 30 dias.
Sim eu fui uma criança daquelas que deixa os pais de cabelos em pé. Não é segredo para ninguém que os Videogames sempre foram e ainda são minhas diversões preferidas, mas eu adorava brincar na rua, jogar bola e “explorar” um terreno baldio que tinha perto da casa da minha avó onde eu e meus país morávamos.
As vezes o resultado dessas minhas aventuras era um machucado ou outro, mas dessa vez tinha sido um pouco mais sério.
Eu estava muito chateado porque afinal de contas iria passar pela minha terceira cirurgia e eu tinha muito medo. Além do mais eu já estava com o braço esquerdo imobilizado por quase 3 meses e isso me limitava um pouco para jogar Videogames.
Percebam que eu disse limitava, mas não me impedia. Mesmo com o braço quebrado e imobilizado eu dava um jeito de jogar meu querido Atari 2600. Tudo bem que o meu joystick ficava um pouco branco por conta do pó de gesso que ficava impregnado nele após as jogatinas, mas eu não poderia deixar minha paixão de lado.
Mas o fato é: Eu estava internado longe do meu Videogame e sem nada para me divertir.
A cirurgia já tinha sido concluída com sucesso e eu estava com um pino de platina novinho no braço. Não pude deixar de me sentir um pouco como um ciborgue, mas aquilo não tinha nada de divertido. A internação ainda duraria mais dois, talvez três dias e eu sem nada para fazer.
Meu pai trabalhava durante o dia e vinha me ver no hospital sempre no fim das tardes. Minha mãe ficava comigo o dia todo ao lado da minha cama na enfermaria do hospital. No segundo dia a hora do meu pai chegar para a visita se aproximava e eu estava animado para vê-lo afinal de contas além da saudade do meu pai ele era quem poderia me trazer alguma notícia do “mundo exterior”.
Quando ele entrou no quarto da enfermaria logo no primeiro momento percebi na mão dele uma revista em um tom azul. Aquilo chamou minha atenção. Acho que nunca tinha visto meu pai ler uma revista. Mas me segurei para não perguntar e parecer desinteressado pela sua visita, já que ele estava conversando comigo para saber como eu estava me sentindo.
Após alguns minutos de conversa a surpresa foi revelada. A tal da revista era para mim e quando meu pai me entregou eu pude finalmente ver a sua capa e o título escrito em amarelo em letras garrafais: “Videogame”.
Meus olhos brilharam e um sorriso surgiu de maneira espontânea.
A capa era linda e trazia o Mario em destaque. Algumas pequenas fotos em baixíssima resolução de jogos do NES e algumas chamadas para matérias como: “10 conselhos para formar um bom jogador”, “Os acessórios mais modernos”, “Exterior: a 5ª geração é incrível” e o mais legal de tudo “Totalmente colorida – mais de 360 fotos”.
Essa fantástica publicação da saudosa Editora Sigla foi meu primeiro contato com uma revista de Videogames. Aquilo explodiu minha cabeça. Estava disponível na banca uma revista exclusiva para falar de videogames e ainda falava sobre jogos do meu querido Atari 2600, que a essa altura eu já tinha ideia de que estava ficando ultrapassado. Aquela revista foi a minha diversão durante os dias de internação. Aliás, mais do que isso eu não desgrudava dessa revista mesmo depois quando eu já estava em casa.
Li todas as páginas, palavra por palavra por diversas vezes. Eu já havia decorado a revista toda, mas mesmo assim continuava lendo e admirando cada pequena foto e sonhando com o dia em que eu teria um videogame da próxima geração.
A importância dessa revista na minha vida é imensurável. Talvez, se não fosse por ela vocês não estariam lendo essa crônica nesse exato momento. Efeito Borboleta? Talvez. Mas essa revista foi a minha porta de entrada para conhecer e curtir outras publicações no futuro.
Hoje temos informações sobre qualquer assunto disponível em tempo real literalmente na palma das nossas mãos com qualquer Smartphone. Nesse exato momento em que termino essa crônica estou me preparando para acompanhar ao vivo mais uma Nintendo Direct recebendo diretamente da própria produtora informações confiáveis e atualizadas sobre os principais jogos e lançamentos. Isso é fantástico. As limitações físicas não fazem mais parte dos desafios para a disseminação das informações.
Entretanto, pelo menos para mim, as revistas impressas, até hoje possuem um charme especial. Talvez por eu ter vivido e presenciado a chegada dessas maravilhosas publicações em solo nacional, ou só pelo fato de eu ser um entusiasta do cenário de jogos de maneira em geral. Mas fato é: eu não abro mão das minhas revistas, tenho uma pequena coleção e continuo assinando e comprando hoje em dia.
Infelizmente eu não tenho mais essa edição física. Ela acabou se perdendo pelos anos. Tentei comprar pela internet recentemente, mas o preço é impraticável. De qualquer forma eu tenho a minha versão digital e vocês também podem baixar essa edição clicando aqui.
Obviamente vocês não poderão sentir a nostalgia que eu sinto ao ler essa revista, mas é uma ótima oportunidade de descobrir como eram as publicações “especializadas” dos anos 90, onde até mesmo revistas como Ação Games, Super GamePower entre outras ainda estavam aprendendo e descobrindo como se comunicar com a chamada geração videogames.
Vida longa e próspera para as revistas de Videogames.
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