Quando jogar deixa de ser prazer e vira ansiedade
Tem dias que eu sento no sofá, olho pro controle, abro o menu da Steam, passo os olhos pela estante de jogos retrô e… fecho tudo. Não porque não tenho o que jogar. Pelo contrário. Tenho jogos incríveis, comprados com empolgação, esperados por semanas, recomendados por amigos e desejados desde a época em que Humberto Gessinger ainda usava o cabelo repartido ao meio — ou seja, faz tempo. Mesmo assim, não consigo jogar.
Nos últimos tempos, tem me batido uma angústia esquisita. Aquela ansiedade de começar um novo jogo e, logo depois, a impaciência de abandoná-lo na primeira curva. Tenho pulado de um game para outro como quem troca de canal na televisão, ou melhor, como quem desliza o dedo pra cima no Tik Tok. É exatamente aí que começa o meu diagnóstico amador: será que a gente está sofrendo de uma espécie de “Síndrome do Tik Tok”?
Porque veja, a lógica parece a mesma. Pílulas curtas de prazer imediato, estímulos constantes, recompensas rápidas. Não é mais sobre imersão, sobre mergulhar em um mundo novo ou acompanhar a jornada de um herói até o final. É sobre experimentar, sentir o gostinho e sair correndo para o próximo. Como quem dá uma mordida numa coxinha e já tá pensando no brigadeiro da sobremesa.

Quando até o que é bom não segura a atenção
Essa síndrome não tem idade nem gênero de jogo. Ela me ataca tanto com aquele RPG japonês de 60 horas que começa com um tutorial gigante quanto com o clássico de Super Nintendo que eu jurava amar desde criança. Jogos indies, AAA, retrô, lançamento… nada escapa. Tem game que eu abro, jogo meia horinha e penso: “nossa, legal demais, preciso continuar”. No dia seguinte, o ícone já virou parte da paisagem digital do meu desktop. E o pior: enquanto escrevo isso, tem uns cinco jogos me olhando com cara de abandonados, tipo cachorro molhado na chuva. E eu sigo comprando mais, como se a cura estivesse sempre no próximo título da wishlist.
Lembro que antigamente isso só acontecia quando o jogo era realmente difícil, repetitivo ou injusto. Tipo aquele chefe que a gente enfrentava com raiva e com fé, só pra morrer de novo e de novo até decorar cada padrão de ataque. Hoje em dia, às vezes abandono o game mesmo gostando. Mesmo achando bonito, divertido, com boa trilha, boa jogabilidade… mas não sei, algo se perde. Talvez o encantamento tenha virado notificação. Talvez a atenção tenha sido sequestrada por algoritmos que nos ensinaram a buscar só o clímax, sem a jornada.

Reeducar o cérebro pra voltar a se divertir
Refletindo sobre isso, percebi que essa sensação não surgiu do nada. Tudo começou lá atrás, quando descobri os emuladores. Aquela overdose de opções, aquele mar de possibilidades me deixou mais inquieto do que criança em loja de brinquedo. E agora, com a biblioteca da Steam maior do que a discografia dos Engenheiros do Hawaii, o cenário se repete — só que com gráficos em 4K e trilha sonora orquestrada.
Por isso, decidi tomar algumas medidas. Nada drástico, não vendi meus consoles nem deletei minhas contas. Mas comecei a diminuir o tempo nas redes sociais, deixo o celular longe na hora de jogar, silenciei as notificações e, principalmente, tento não começar dez jogos ao mesmo tempo. Tô reaprendendo a jogar. Reeducando o meu cérebro a se reconectar com aquilo que sempre me deu prazer: viver uma boa história, vencer um desafio difícil, zerar um jogo até aparecer os créditos — e sim, ficar parado vendo os nomes dos desenvolvedores passando, porque isso também é parte do ritual.
Você também sente isso? Vamos conversar
Não tá sendo fácil. Às vezes eu escorrego. Vejo um trailer bonito, uma promoção tentadora e… pronto, lá vai outro jogo pro backlog. Mas sigo tentando. Porque jogar sempre foi mais do que apenas passar o tempo. Foi refúgio, terapia, catarse, viagem no tempo. E eu não quero perder isso.

Se você também anda se sentindo assim — impaciente, inquieto, pulando de jogo em jogo sem parar — saiba que não está sozinho. Talvez seja a hora de desacelerar, ignorar o hype, escolher um game e dizer: “é você e eu agora, até o fim”. Pode parecer estranho no início, mas a recompensa vem. E não é em forma de curtida ou view. É em forma de memórias boas, histórias incríveis e finais que realmente valem a pena.
Agora me diz aí: você também tá com a Síndrome do Tik Tok? Ou já encontrou o caminho de volta pra aquela paixão antiga pelos games? Bora conversar nos comentários — e quem sabe, juntos, a gente desinstala o Tik Tok e reinstala o prazer de jogar.