Por volta de 1987 os Videogames já eram uma realidade no Brasil. Muitas casas com crianças já tinham o Atari 2600 ou um de seus muitos clones instalado na TV da sala. E comigo no auge dos meus 6 anos de idade não era diferente. Passava horas jogando. Sozinho, com meu irmão ou com alguns amigos da escola ou do bairro.
Contava as horas na escola para poder chegar em casa e jogar um pouco depois do almoço e antes de começar a fazer a lição de casa.
Nos 15 minutos que tínhamos de intervalo, ou recreio, se preferir, meus amigos e eu costumávamos jogar futebol em algum canto da quadra ou do pátio da escola. Improvisávamos um gol em alguma parede e a bola era na maioria das vezes garrafinhas vazias de Yakult, Dan’Up ou quando tínhamos muita sorte uma lata de refrigerante amassada.
Esse era o nosso ritual todos os dias de segunda à sexta às 10:00 da manhã.
Mas certo dia um dos amigos do grupo não apareceu para jogar. Ele estava sentado na arquibancada da quadra entretido com um novo brinquedo. É claro que aquela cena despertou a atenção de toda a garotada e corremos para descobrir o que era aquilo. Ao chegar mais perto percebemos que ele estava brincando em algo que lembrava uma calculadora.
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Seus olhos estavam vidrados em uma pequena tela “LCD” onde era possível ver um campo de futebol estático e um goleiro que se movia para a direita e para a esquerda defendendo diversas bolas que desciam da parte superior da tela. As únicas coisas que tinham alguma cor era a carcaça do aparelho e o fundo estático com o gramado. O restante que se movia era todo preto.
Ele estava jogando Videogame! Mais precisamente um Minigame!
É desnecessário dizer o quanto ficamos alucinados quando descobrimos o que era aquilo. Eu mesmo nunca tinha visto nada igual. Apesar de simples, a possibilidade de ter um jogo no bolso em qualquer lugar que eu fosse era fabulosa. Depois de muita insistência o dono do Minigame nos deixou experimentar um pouco. Achei a sensação maravilhosa. Não demorou muito para eu entender como aquilo funcionava e até que me saí muito bem em relação aos outros meninos.
Aquele Minigame de futebol foi a diversão da garotada por muitas semanas na escola. Era uma versão muito simplificada dos Game & Watch da Nintendo (Que nós nem sabíamos da existência).
Com o passar dos dias novos Minigames começaram a aparecer na escola. A premissa era exatamente a mesma: Mover um elemento para a esquerda e direita evitando os objetos que desciam pela tela. A única coisa que mudava era a temática e as carcaças de cada jogo. Tinha de tudo: Carros de Fórmula 1 desviando de outros carros, Ninjas que deviam evitar shurikens, bombeiros fugindo de chamas etc.
Muitos amigos já tinham os seus Minigames. E eu que não era bobo nem nada me divertia com os joguinhos da galera.
Mas obviamente eu morria de vontade de ter o meu próprio. Depois de um tempo tomei coragem e pedi para o meu pai me comprar um. A esmagadora maioria desses aparelhos chegavam ao Brasil vindo por contrabando do nosso país vizinho o Paraguai. Sendo assim só era possível encontrar em alguma dessas lojas que vendiam coisas importadas ou encomendando com algum “sacoleiro” conhecido. Mas além da dificuldade em encontrar os Minigames eles custavam caro. Era novidade e estava vendendo mais do que pão quente. Alta procura + Escassez = Preço Alto.
Sendo assim eu teria que esperar até o dia das crianças para ganhar o meu primeiro portátil. Passei os meses seguintes apreciando cada novo aparelhinho que algum amigo levava para a escola e fazia planos para quando eu tivesse o meu.
Finalmente Outubro chegou e trouxe consigo a minha ansiedade. Foram os 12 dias mais demorados da minha vida até o dia das crianças.
Eu passei a semana toda falando para os amigos que eu finalmente ganharia o meu Minigame. Mas eu não tinha ideia do que seria. Não era possível eu escolher. Meu pai havia feito a encomenda e eu teria que me contentar com o que viesse. Não tinha problema! Afinal eu finalmente seria parte do grupo dos donos de Minigames do colégio. Não que isso significasse alguma coisa. Eu queria mesmo era jogar.
E o dia chegou. Meu pai me entregou a caixinha com o brinquedo. Fui correndo abrir e experimentar. Ele era lindo. Em formato triangular, verde fluorescente e com os botões em amarelo. O tema era diferente de todos os dos meus amigos. Era um gato que percorria a tela na parte inferior e precisava pegar alguns ratos que ficavam saltitando pela tela.
Adorei! Joguei o dia todo e não queria parar nem para almoçar.
A cada nova partida eu tentava quebrar meu próprio Record que ficava salvo no aparelho. Aquela era minha motivação. Eu queria me superar.
Um pouco antes de dormir comecei a folhear o manual e descobri que além do jogo aquele Minigame era um relógio com despertador. Apanhei bastante, mas depois de uns bons 20 minutos consegui acertar o relógio e programar o despertador para às 06:00 para acordar e ir para a escola no dia seguinte.
Eu me sentia o máximo e mal podia esperar para mostrar a novidade para os amigos.
No dia seguinte lá estava eu na roda de amigos com meu mais novo “brinquedo”. Mais dois ou três amigos também ganharam os famigerados Minigames, então novidade era o que não faltava. O grande barato era pegar o aparelho do amigo e quebrar o Record dele deixando o seu novo Score gravado no brinquedo do amiguinho.
Essa febre durou até a metade do próximo ano mais ou menos. As coisas começaram a evoluir. Surgiram os Minigames mais complexos como os Serie Master da Tectoy, alguns poucos Game & Watch e até um Game Boy alguns anos depois.
Mas isso é assunto para uma próxima crônica.