O ano é 1995. Eu com exatamente 13 anos de idade cursando o último ano do ensino fundamental. O Master System e o Turbo Game são os meus consoles e é neles que eu tenho todas as experiências baseadas nos videogames de 8-Bits.
Os computadores nos Brasil já são uma realidade, mas ainda para poucas famílias mais privilegiadas. Já havíamos passados pelos XT, AT, 286, 386 e chegando na geração 486. Eu praticamente não tinha nenhum contato com PCs e tinha tido pouquíssimas oportunidades de jogar ou mesmo fazer alguma interação com os computadores. Aquilo para mim era algo completamente desconhecido. Mas algo que me fascinava.
Eu tinha um amigo um pouco mais novo, que morava na mesma rua e costumávamos jogar bola e Videogames juntos. Seu nome era Mario. Por eu ser um pouco mais velho que Mario eu acabei criando uma certa amizade com seu pai, que se chamava Gilberto.
Gilberto trabalhava como administrador de redes e sabia do meu interesse por computadores. Normalmente nossos bate-papos sempre acabava caminhando para tecnologia. Eu dizia para o Gilberto que iria fazer técnico em Processamento de Dados para trabalhar com computadores e ele me prometia um estágio assim que eu começasse meu curso técnico.
Mesmo trabalhando na área e sendo uma pessoa com um poder financeiro legal o computador que Gilberto tinha em casa era bem antigo, um IBM PC com tela de fósforo verde de 1981.
Ele já tinha me mostrado algumas vezes e eu já tinha até mesmo jogado alguma coisa como Pacman ou brincado em programas com Print Master para fazer cartões de aniversários. Por mais antigo que era aquela máquina eu tinha muito fascínio por aquilo. Talvez pela novidade ou mesmo pela vontade de aprender algo novo.
Mas infelizmente as vezes que eu tinha a oportunidade de ter acesso ao IBM PC eram muito raras.
Entretanto, minha sorte estava para mudar em breve e o melhor de tudo sem eu esperar, assim de surpresa. Em uma manhã de sábado Mario me ligou dizendo que seu pai, Gilberto queria falar comigo. Em um primeiro momento estranhei, mas fui até sua casa. Chegando lá Gilberto me mostrou todo orgulhoso seu novo computador um PC 386 que ele acabara de comprar.
Fiquei fascinado vendo aquele monitor colorido exibindo lindas fotos na tela além de alguns programas rodando no Windows 3.1.
Devo ter feito um milhão de perguntas para o Gilberto, aliás a visita já tinha valido a pena. Aquilo era o suprassumo da tecnologia. Mas o melhor ainda estava por vir! Quando eu já me preparava para ir embora Gilberto disse que iria se desfazer do seu antigo IBM PC e perguntou se eu tinha interesse. Obvio que eu tinha interesse, mas não tinha nenhum dinheiro. Também não seria fácil convencer meu pai de que eu precisava de um computador se eu sequer sabia explicar para ele o que um computador fazia.
Mesmo sem nenhuma perspectiva de poder comprar aquela linda máquina, perguntei para o Gilberto:
Por quanto você quer vender?
Foi então que ele olhou para mim, sorriu e disse:
Não quero vender. Esse computador é antigo. Eu estou te dando para que você comesse a aprender e brincar com ele.
Na hora não acreditei. Devo ter começado a tremer e gaguejar de tanta felicidade. Quem diria que naquela manhã de sábado eu receberia um computador “novinho” e totalmente de graça. Claro que eu aceitei e fiquei feliz demais com o presente. Naquele momento, para mim o IBM PC que não tinha sequer Mouse ou HD era infinitamente melhor do que aquele 386 novinho em cima da mesa.
Ele estava ali todo desmontado em um canto da sala do Gilberto. Corri para pegar e levar para casa. Precisei fazer três viagens para poder carregar todas as peças. Só aquele teclado devia pesar mais de 3Kg (Sem brincadeira). Meu pai vendo eu chegar com tudo aquilo em casa estranhou e me perguntou do que se tratava. Eu disse que o Gilberto tinha me dado de presente e ele não acreditou. Foi confirmar a informação pessoalmente.
Em um primeiro momento fiquei preocupado pensando que poderia ficar sem meu computador, mas para minha alegria após um bate-papo entre os dois e tudo esclarecido meu pai me ajudou a carregar o resto das peças que faltava.
Chegando em casa a primeira preocupação era com relação ao local onde o computador seria montado. Obviamente no meu quarto, mas eu não tinha uma mesa ou mesmo um lugar para colocar aquilo.
Meu pai percebendo a minha ansiedade e já tendo consciência de que eu iria ligar o computador nem que fosse em cima de algumas cadeiras improvisadas, tirou a TV da sala de cima da sua mesa (uma grande com rodinhas) e me deixou levar para o meu quarto deixando a TV da sala no chão.
Enquanto eu providenciava a montagem instalação do computador no meu quarto ele partiu com minha mãe em busca de uma nova mesa para a TV da sala em alguma loja de móveis ali perto. Demorei um bom tempo para conseguir montar tudo. Eu não fazia ideia de onde conectar os cabos, mas depois de algumas tentativas frustradas eu consegui. Estava ligado.
E agora como eu faço alguma coisa com isso?
Gilberto me deu algumas dicas e eu já tinha visto o Mario iniciar alguns jogos em disquete. Então segui o mesmo procedimento. Liguei o computador com o disquete de 5 ¼ do MS-DOS no drive A:\ e esperei o computador fazer o boot.
Quase 10 minutos depois o boot estava concluído. Peguei um outro disquete com o nome Pacman na etiqueta troquei pelo MS-DOS que estava no drive e digitei no teclado: Pacman
Pronto o jogo carregou e eu estava jogando exatamente como eu tinha visto o Mario fazer por algumas vezes. Não posso negar que naquele momento eu me senti o gênio da informática. Depois de alguns minutos jogando Pacman quis arriscar alguns outros jogos que eu já conhecia. Tinha outro disquete na caixa com o título “Jogos” e junto com ele alguns nomes escritos na capinha de papel do disquete. Resolvi arriscar. Descobri então que cada um dos nomes escritos a caneta na capa do disquete era um jogo diferente. Bastava eu digitar o nome para poder jogar aquele determinado jogo.
Comecei a entender como aquilo funcionava.
Junto com o IBM PC vieram duas caixas repletas de disquetes com nomes esquisitos nas etiquetas: Lotus 1,2,3 – Wordstar – Print Master – Chess etc.
Obviamente eu não fazia ideia do que era aquilo tudo. Não conhecia nada de inglês e era um desafio fazer aqueles outros programas funcionar, uma vez que eu não fazia ideia qual o nome eu tinha que digitar para cada um dos programas.
Foi então que comecei a buscar ajuda em alguns livros antigos de DOS, aprendi comandos como o DIR para listar o conteúdo dos disquetes e comecei a fazer algumas experimentações. Também foi estudando sozinho que eu consegui dominar o sistema operacional depois de um certo tempo e descobri como pesquisar por arquivos EXE foi então que ficou mais fácil executar o que tinha nos outros disquetes.
A cada nova descoberta ou programa que explodia na tela era uma comemoração.
Durante meses a minha diversão era chegar da escola, pegar meu velho livro de DOS e ficar testando e aprendendo novos comandos (DIR, COPY, CD\, MD, DEL, DELTREE etc).
Não foi fácil e levou alguns meses, mas aprendi tudo o que poderia fazer com aquilo. Essa foi minha base em TI. Ali, sozinho no meu quarto, com um computador velho, um livro mais velho ainda e duas caixas de disquetes com infinitas possibilidades. Obviamente eu pegava algumas dicas com o próprio Gilberto e alguns parentes que eu tinha que trabalhavam na área. Tudo isso ajudou.
Com o passar do tempo comecei a copiar alguns joguinhos mais simples de alguns amigos que já tinham em suas casas um 286, 386 ou mesmo um 486. Claro que maioria dos jogos não cabiam nos meus disquetes de 5 ¼ com capacidade de 360 Kb e mesmo os que cabiam muitos não rodavam no meu IBM PC.
Mas mesmo assim era divertido esses testes e a sensação de realização quando eu conseguia rodar um jogo novo era indescritível. Fiquei com esse computador por quase um ano foi uma escola fantástica.
Meu pai percebendo meu interesse e força de vontade com aquele computador resolveu me ajudar a evoluir e eu ganhei um 486 com incríveis 16Mb de RAM e um Winchester de espantosos 540Mb. Novos horizontes se abriram, mas isso é assunto para uma próxima crônica.