Todo jogador tem aquele jogo de conforto. Aquele título que, mesmo depois de zerado 14 vezes, ainda parece um abraço de infância em forma de pixels. Para mim, esse jogo é The Lucky Dime Caper, do Master System. Um clássico estrelado por Donald Duck que, na minha cabeça, eu jogo no modo profissional da NASA. Afinal, eu já tinha terminado ele várias vezes lá nos tempos do meu Master System 1, em tardes intermináveis regadas a Toddy e pão com margarina Qualy.
Pois bem, recentemente me dei um presente: adquiri o Retroid Pocket 5, um desses consoles portáteis maravilhosos que rodam de tudo, de Atari até PS2, e com uma qualidade que deixaria o Humberto Gessinger emocionado — provavelmente escreveria uma música em Mi menor só pra comemorar.
Pra estrear a belezura, decidi jogar um título que me desse essa sensação de segurança, nostalgia e carinho. Escolhi o The Lucky Dime Caper, é claro. Inclusive, já temos um episódio lindão sobre esse jogo no nosso podcast. Escute clicando aqui!

Plano Infalível: Jogo Fácil + Nostalgia = Sucesso. Só que não.
O plano era simples: jogar sem usar Save States, só salvando quando trocasse de fase. Afinal, somos adultos, e pode ser que a vida resolva bater na porta no meio da jogatina — e nem sempre com flores. Um boleto, uma ligação do trabalho ou um “pai, acabou o papel higiênico” pode interromper a qualquer momento.
No meu imaginário, seria um passeio no parque, quase uma dancinha com o Pato Donald por florestas encantadas e pinguins simpáticos. Mas o que aconteceu foi um verdadeiro baile de chinelo na cara da minha autoestima gamer.
Me vi perdendo vidas, cometendo erros grotescos, pulando no abismo como se fosse o Mario do Paraguai. A ficha caiu quando tentei um pulo simples numa plataforma e o Donald afundou feito esperança em ano eleitoral. Pensei: “ué, será que esse controle tá com delay?” — e depois percebi: não, sou eu mesmo.
O Save State nos Deixou Mal Acostumados?
Fiquei o dia todo remoendo isso. Será que os jogos modernos, com checkpoints generosos e tutoriais intermináveis, nos deixaram preguiçosos? Será que o uso constante do Save State nos transformou em jogadores frouxos? Ou será que, simplesmente, ficamos velhos?
Porque convenhamos: na nossa infância, o tempo era outro. A gente tinha uma meia dúzia de cartuchos, então jogava o mesmo jogo 300 vezes. Decorava o padrão dos inimigos, o tempo do pulo, a música de cada fase. Virávamos especialistas porque não tinha muito pra onde correr. Hoje, entre trabalho, família, e uma hérnia de disco nascendo devagarinho, falta treino, falta tempo, faltam reflexos — sobra boleto.

O Tempo é Mais Valioso que a Honra Gamer
Depois de várias tentativas, decidi parar com essa palhaçada de jogar no orgulho. Voltei pro velho e bom Save State, salvando até no meio do pulo, se fosse necessário. E quer saber? Foi libertador.
Como bem disse nosso querido companheiro de cast, o DJ (um abraço, DJ!):
“O meu tempo vale muito mais do que a minha honra.“
Essa frase ficou martelando na cabeça e virou meu novo lema gamer. Não estou tentando entrar no Guinness Book, nem impressionar ninguém em um campeonato de speedrun — só quero me divertir. Porque, no fim das contas, videogame é isso. É hobby. É alívio. É alegria. Se vira frustração, tem algo errado.
A Conclusão: Jogar é Sobre Se Sentir Bem
Jogar com Save State não te torna um jogador pior. Te torna um jogador que entende o próprio tempo, as próprias limitações e que está ali por prazer. O jogo é seu. A jornada é sua. A regra é sua.
Se você também se sentiu mal por usar rewind, save/load state, ou colocou no modo fácil porque não aguenta mais morrer no tutorial… tá tudo bem. A gente te entende. Somos muitos. Somos adultos. E se tiver sorte, ainda somos crianças por dentro, com um Retroid Pocket na mão e um coração de 8 bits batendo forte.
E se algum dia a dúvida bater de novo, lembre-se do Donald.
Lembre-se que até um pato com boné é mais rápido do que a gente hoje.
E tá tudo bem.
