Lá estava eu, como um bom brasileiro apaixonado por pancadaria digital e fanfarronices com os amigos, redescobrindo o amor pelos jogos de luta graças ao hype do recém lançado Fatal Fury: City of the Wolves (inclusive, sexta-feira tem texto no Fliperama de Boteco com minhas primeiras impressões, não perde!). No embalo dessa empolgação, resolvi mergulhar de cabeça em The King of Fighters XV, um jogo que não apenas retomou o respeito perdido, mas também mostrou que a SNK ainda sabe dar Hadouken (Ou Power Geyser) sem perder a ternura jamais.
Da Glória ao Tombo: Um Breve Flashback da Luta
Antes de falarmos do XV, vale a pena lembrar de onde a franquia veio mais recentemente – e por onde tropeçou.
The King of Fighters XIII foi, com razão, tratado como o verdadeiro retorno da realeza dos jogos de luta. Com gráficos 2D desenhados à mão de cair o queixo e uma gameplay que parecia saída diretamente de um caderninho de combinações de fliperama, o jogo reacendeu a chama no coração dos fãs. Os personagens estavam carismáticos, os combos tinham alma e a trilha sonora fazia até o Humberto Gessinger querer largar o baixo pra dar uns sopapos.
Aí veio The King of Fighters XIV, em 2016… e a SNK achou que era hora de se aventurar no 3D. Só que o 3D veio meio cru, meio triste, tipo feijoada de hotel. A direção de arte ficou genérica, muitos personagens pareciam feitos às pressas num software de modelagem dos anos 90, e o impacto visual simplesmente não bateu. Apesar da jogabilidade até ser sólida, faltava aquele tempero que fazia os fãs levantarem da cadeira no meio do round. Resultado: o jogo caiu no limbo da aceitação morna, junto com outras promessas não cumpridas como o final decente de Lost.

KOF XV: A Luz no Fim do Combo
Mas eis que chega The King of Fighters XV, lançado oficialmente em fevereiro de 2022, trazendo consigo um ar de redenção e uma mensagem clara: “Perdão pelos vacilos”. E olha… foi bonito de ver.
Logo de cara, o impacto visual é outro. Os gráficos em 3D finalmente encontraram um estilo próprio. A direção de arte soube unir o clássico ao moderno sem parecer que estavam usando o filtro de Instagram errado. Até minha mãe, que entende tanto de videogame quanto o Gessinger de balé clássico, comentou enquanto eu jogava: “Isso aí é um jogo ou um filme?” – e foi aí que eu tive certeza que a SNK acertou a mão.
Escalando o Elenco: Quem Tá no Ringue?
Na versão base, KOF XV trouxe 39 personagens divididos em equipes tradicionais de três lutadores. Tem a galera de sempre (Kyo, Iori, Terry), mas também espaço pra novos rostos como o protagonista Shun’ei – um adolescente com poderes místicos e uma franja de respeito.
Só que o verdadeiro trunfo veio com o tempo: as DLCs. Até o momento, o jogo já conta com 59 personagens graças aos pacotes extras. Entre os times adicionados estão nomes de peso como o Team Garou (com Rock Howard, B. Jenet e Gato), o Team South Town (com Geese Howard, Billy e Yamazaki) e até o inesperado Team Samurai, importado diretamente de Samurai Shodown com Haohmaru, Nakoruru e Darli Dagger. Tem até o retorno do Orochi com seu trio sombrio que faz qualquer um tremer no controle.
É tanta gente que o elenco parece festa de aniversário em buffet infantil: cada vez que você olha, tem mais um personagem que você não lembrava que tinha sido convidado.

História: O Arco de Verse, ou “Quem é esse Pokémon místico?”
A trama de KOF nunca foi um primor de clareza, mas desde o KOF XIV estamos no tal “Arco de Verse”. Esse tal de Verse era uma criatura interdimensional que explodiu tudo no jogo anterior e abriu espaço pra personagens mortos voltarem (por isso a farra de rostos conhecidos). Em KOF XV, quem dá as caras é Otoma=Raga, uma entidade ainda mais bizarra, com ares de boss de RPG japonês misturado com mitologia grega depois de uma feijoada.
Shun’ei e a novata Isla assumem os papéis principais no enredo. Ele é o mocinho com poderes psíquicos instáveis, ela é a rival de cabelo estiloso e personalidade forte – tipo um Sasuke com mais carisma e menos mimimi. O enredo gira em torno do controle desses poderes e da batalha contra o caos multiversal iniciado pelo Verse.
E sim, o jogo tem finais diferentes para cada equipe. São dezenas de finais originais dependendo da combinação de personagens. Isso mesmo, dezenas. Se você é do tipo que gosta de 100% de conteúdo, prepare o café e a paciência porque tem final até pra time que você achou que inventou na zoeira.
Jogabilidade: Rápida, Fluida e com Barra Até no Sobrenome
Se tem algo que KOF sempre manteve, foi o sistema de 3 contra 3. Em KOF XV, ele está mais rápido e responsivo que nunca. A movimentação é ágil, os comandos são precisos e o sistema de barras dá um show à parte:
- Shatter Strike: um contra-ataque técnico que exige precisão cirúrgica.
- MAX Mode: agora mais acessível, permitindo combos estendidos e mais criatividade.
- Quick Max Activation: que pode ser encaixado no meio do combo pra esticar a bagunça.
- Climax Super Special Moves: golpes que ocupam quase metade da tela e fazem sua TV vibrar igual caixa de som do Engenheiros do Hawaii.
Ah, e tem também o Rush Combo pra quem quer só apertar botão e se divertir – inclusive recomendado pra quando o controle tá com lag ou você já tomou três geladas.

Modos de Jogo: É Coisa que Não Acaba Mais
KOF XV se destaca por oferecer um robusto conteúdo offline. Além do tradicional modo história (com seus inúmeros finais), há:
- Modo Versus,
- Modo Treinamento,
- Modo Trial para combos,
- Galeria de artes e vídeos desbloqueáveis,
- E o DJ Station, que merece um parágrafo só pra ele.
Sim, o DJ Station permite que você escolha as músicas que vão tocar durante as lutas. E não estamos falando só da trilha de KOF XV, mas de toda a biblioteca clássica da SNK: KOF 98, KOF 2002, Samurai Shodown, Metal Slug… É como se o Spotify tivesse passado a ser curado por um fliperama.
Online: Agora Vai
Se tem algo que antes era uma dor de cabeça pra SNK, era o online. Mas em KOF XV, finalmente temos um rollback netcode bem implementado. As partidas são estáveis, o matchmaking funciona e o melhor: o jogo tem crossplay entre plataformas. Ou seja, agora não tem mais aquela desculpa do amigo do PC que não pode enfrentar o pessoal do PlayStation. É porrada democrática.

Conclusão: O Rei Voltou ao Trono
The King of Fighters XV é tudo aquilo que os fãs queriam – e mais um pouco. Um jogo visualmente bonito, tecnicamente sólido, recheado de conteúdo, com online funcional e uma trilha sonora que faz até o som da seleção de personagens ser empolgante.
Se KOF XIII reacendeu a chama, KOF XIV jogou um balde d’água e KOF XV veio com o balde cheio de gasolina. E cá entre nós: depois de tantas lutas, é bom ver a SNK de volta à forma.
Se curtiu a análise, já deixa nos comentários qual time te levou à vitória – ou te levou pro chão. E não esquece: sexta tem primeiras impressões de Fatal Fury: City of the Wolves, porque aqui a briga nunca para!