A Crônica de hoje foi escrita por um convidado muito especial: Luiz Miguel de Souza Gianeli autor do excelente livro de crônicas Muito Além dos Videogames.
Mais informações sobre Luiz e como adquirir seu livro no final desta crônica.
O saudoso 16 bits da SEGA é sempre lembrado por sua qualidade sonora, normalmente associada ao Rock ou ao Heavy Metal tendo influenciado, inclusive, a criação de uma banda brasileira chamada “Mega Driver”, um modo carinhoso e “errôneo” que alguns, até hoje, chamam o console.
Pois bem, o Mega Drive e a música tem uma relação forte em minha vida, mas em estilos bem mais calmos, como a música clássica e os hinos cristãos, mas precisamos voltar ao início…
Em algum momento na metade da década de 90, quando o querido Turbo Game CCE já não nos divertia tanto e a galera estava, pouco a pouco, passando para os consoles de 16 bits, meu irmão Giuliano e eu, começamos a pedir um Super Nintendo aos nossos pais. Um Mega Drive nem passava por nossas cabeças, visto que a maioria dos amigos próximos estavam indo para o console da Nintendo e, acima de tudo, era lá a casa do Super Mario, sem sombra de dúvidas, nosso personagem favorito. Sim, o bigodudo da Nintendo era como o mascote da família, até meus pais gostavam dele.
Mas a situação financeira da família não era boa, meus pais estavam bem apertados pagando as dívidas da casa recém construída e sabíamos a dificuldade que era um investimento assim de repente. Um Super Nintendo não era nada barato naquele momento e foi aí que o Mega Drive apareceu.
Meu pai era bem amigo do “Fera”, o dono da única locadora de Caçapava Velha, o bairro em que morávamos, a “Games do Fera”, localizada numa simples garagem, com quatro SNES e um Mega para a molecada jogar e alguns cartuchos em caixas de sapatos atrás do balcão para alugarmos (caso não estivessem em uso no momento). Fera era um metaleiro típico; loirão, cabeludo, cheio de tatuagens, falando em gírias e muito simpático com a criançada que jogava e alugava por lá. Nas conversas entre os dois meu pai falou que estávamos querendo um novo videogame e ele ofereceu o Mega Drive, pois o coitado só ficava parado, a galera só queria saber do Super Nintendo com Top Gear e Street Fighter 2. Eu até que me empolguei, já havia jogado Sonic na casa de um amigo e pensei, seriamente, na possibilidade de trocar a Nintendo pela SEGA, afinal, ajudaria meus pais dando a eles um gasto bem menor. Era um Mega japonês e o valor seria bem abaixo do SNES da Nintendo. Como ninguém jogava, o Fera queria passá-lo para frente e investir em mais cartuchos para o console rival.
Como ele percebeu minha dúvida, permitiu que eu levasse o Mega para casa naquele final de semana e testasse para ver se ia querer ficar. Veio com um cartucho que eu nunca tinha visto, um jogo de Pinball com temática jurássica, no qual enfrentávamos chefões que eram dinossauros. Até que gostamos, era divertido, simpático e bonitinho, mas não era Sonic… Anos depois descobri que o título do game era Dino Land ou Chou Touryuu Retsuden Dino Land em Japonês, e que havia sido lançado em 1991.
Então, mesmo após aquele final de semana jogando Dino Land e com a satisfação do meu pai em ter conseguido um videogame bem mais barato, nada adiantou, não seria dessa vez que a SEGA tomaria o lugar da Nintendo em nosso lar. Então, apesar da cara feia do meu pai, a preocupação em não ter jogos suficientes para emprestar ou alugar, nos fez ir lá no Fera devolver o Mega Drive, todos envergonhados. Mas ele compreendeu e até deu risada da situação.
Alguns meses depois meu pai chegou com um Super Nintendo novinho em folha, na caixa, com três cartuchos (dentre eles Super Mario World, é óbvio) e dois controles turbo translúcidos. Foi nossa alegria e diversão por vários anos, até a complicada e emocionante passagem para a geração seguinte com o Nintendo 64 e o incrível Super Mario 64. Mas e o Mega Drive e a música, onde ficam nesta história?
Durante o período dos 16 e 32/64 bits, meu irmão e eu conseguimos outros consoles nas infindáveis negociações entre amigos e nos camelôs da cidade, dentre eles, é claro, o Mega Drive e chegamos a ter MUITOS jogos deste maravilhoso aparelho. Jogamos e nos divertimos demais, tanto num Mega Drive 3 da Tectoy que trocamos num Master System com diversos cartuchos, quanto num Mega Drive japonês, exatamente igual ao do Fera, que ficou comigo por um bom tempo, até que comecei a estudar música.
Eu queria aprender a tocar teclado e piano para ajudar com a música em minha igreja, até comecei as aulas, mas após a parte teórica, eu não tinha teclado para treinar em casa e pouco avançava. Foi aí que um amigo da escola, Edson, que queria muito um videogame, perguntou se eu não queria trocar meu Mega Drive pelo teclado Casio dele. Deu muita dó em me desfazer do Megão, mas era necessário e a troca foi feita, para a alegria do Edson e de seus irmãos que, logo de cara, ficaram jogando Sonic, Splatterhouse e outros jogos que acompanharam o videogame. Eu voltei para casa todo feliz com o teclado e minha mãe até comentou que eu estava amadurecendo (ela sabia o quanto gostávamos de videogames…). Treinei bastante naquele instrumento eletrônico de três oitavas, aprendi várias músicas, toqueis alguns hinos e até levei ele para o seminário e, anos depois, para o campo missionário em Minas Gerais. Não me desenvolvi na área da música, mas Débora, minha querida esposa, usou o aparelho para treinar e, hoje, é uma pianista de primeira, tocando com muita beleza os hinos em nossa igreja. Há poucos anos, doamos o teclado Casio para um adolescente amigo nosso que estava aprendendo música e não tinha condições de adquirir um.
Quem diria que o Mega Drive e a música nos acompanhariam tanto? Ficou para a história, marcou nossas vidas. E o melhor, em 2017, venci um sorteio no Facebook e ganhamos um Mega Drive Tectoy que fora relançado naquele ano, para a alegria dos meus filhos, e minha, é claro. Quando o carteiro chegou com o videogame, tudo soou como música em nossos ouvidos… Mas isso é assunto para outra história.
Luiz Miguel de Souza Gianeli
Teólogo, escritor e pastor da Igreja Batista. Gamer desde os anos 80 e Autor do livro “Muito Além dos Videogames – Memórias de um jogador”. Casado com Débora e pai de Agnes, Annelise e Luigi, gosta de registrar suas memórias gamers e, quando possível, jogar algum game antigo com seus filhos.
*A versão digital de “Muito Além dos Videogames” pode ser adquirida por apenas 1,99 na Amazon: https://www.amazon.com.br/Muito-Al%C3%A9m-dos-Videogames-Mem%C3%B3rias-ebook/dp/B07N6HYYWD
*A versão impressa está esgotada mas, em breve, será relançada numa nova edição, ampliada e ilustrada.
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