O ano era 1989, eu estava no auge dos meus 8 anos de idade e tinha acabado de ganhar o meu Master System. Comecei a jogar muito cedo. Com 3 anos meu pai me deu meu primeiro videogame, um Atari 2600 no longínquo ano de 1984. Até então o Atari e mais recentemente o Master System eram as minhas referências no mundo dos jogos eletrônicos.
Obviamente eu sabia da existência de outros consoles, já tinha jogado bastante um Phatom System na casa de um amigo, e eu também sabia dos Arcades ou Fliperamas que normalmente estavam disponíveis para jogar em botecos espalhados pelo bairro.
Me lembro de ter jogado uma ou duas vezes um Arcade de Ms. Pacman em um desses botecos da Vila Bela (Bairro da Zona Leste em que eu morava com minha família). Mas essas ocasiões eram extremamente raras, porque o acesso era muito difícil.
Não dava para ir sozinho por conta da minha pouca idade e mesmo por conta do local onde as máquinas ficavam, então meu pai precisava estar passando pelo local e eu precisava convencê-lo a pagar uma ficha para eu poder jogar, tarefa essa que nunca era fácil, afinal de contas meu pai me dizia que eu tinha videogame em casa e poderia jogar de graça, então qual o sentido de pagar para jogar no bar?
Certa vez estávamos em casa e meu pai me convidou para ir com ele até a padaria do Sr. João na esquina de casa para comprar sorvetes. Sem pensar duas vezes desliguei meu Master System e aceitei o convite. Afinal de contas eram sorvetes. O trajeto da minha casa até a padaria do Sr. João levava menos de 5 minutos, mas fui o caminho todo tentando decidir qual seria o sorvete que eu iria escolher e também fui conversando amenidades com meu pai. Mas ao chegar na padaria a vontade de tomar sorvete foi imediatamente superada. O Sr. João havia alugado um Arcade, e a máquina roubou toda a minha atenção assim que pisei no estabelecimento.
O gabinete era todo verde e a tela exibia um jogo lindo, muito diferente do Ms. Pacman, que até então era o único jogo que eu tinha visto e jogado nos famosos fliperamas.
A tela do jogo rodando em loop de demonstração exibia um anão e uma amazona armados com machado e espada, respectivamente, enfrentando alguns inimigos. A tela avançava com rolagem lateral e tudo parecia fluir muito bem. Aquilo me encantou.
Mas eu não estava preparado para o que viria a seguir: De repente a amazona lançou para o alto alguns frascos azuis e uma cabeça gigante de dragão varreu a tela queimando todos os inimigos. Quando vi aquilo vibrei. Meu pai, que estava olhando a tela também ficou impressionado.
Ali, naquele momento eu tive o entendimento de que os consoles caseiros jamais chegariam perto do que era possível jogar nos Arcades.
Obvio que depois daquela demonstração fantástica de Golden Axe o sorvete ficou para segundo plano, pelo menos para mim. Sem pestanejar pedi ao meu pai que me comprasse uma ficha e me deixasse jogar pelo menos uma vez. Ele não teve como dizer não depois de ver toda a minha empolgação e me comprou a ficha. Me lembro que eu sequer alcançava direito os controles para jogar, mas ele me arrumou um daqueles bancos mais altos e logo comecei minha jogatina.
Escolhi como personagem Ax Battler o guerreiro, que me pareceu o mais forte entre os três. A fluidez dos movimentos do jogo me marcou demais. Tudo parecia muito natural. Após derrotar alguns poucos inimigos descobri que era possível realizar montarias nos animais inimigos, outra agradável surpresa. Como era de se esperar, minha ficha não durou muito tempo. Apesar de ter apenas 8 anos eu já tinha certa habilidade como jogador e resisti o quanto foi possível, mas acabei morrendo para os irmãos carecas com as marretas no final da primeira fase.
Minha única frustração foi não ter conseguido aplicar a magia com o dragão. Só descobri depois de algumas jogatinas que só era possível com a magia da Tyris completamente carregada.
Após perder minha ficha comprei o sorvete com meu pai e voltamos para casa. Durante todo o caminho de volta o assunto com meu pai era Golden Axe.
Na minha cabeça ter aquele Arcade ali na esquina de casa era como ter o jogo no meu próprio quintal. Afinal de contas todos os dias estávamos na padaria do Sr. João para comprar o pão e o leite. Muitas vezes eu ia fazer essas compras sozinho, ou seja, o único desafio seria juntar algumas moedas e vez ou outra desafiar Death Adder novamente.
Infelizmente minha alegria não durou mais do que duas ou três partidas. Aproximadamente duas semanas depois ao chegar na padaria percebi que o fliperama não estava mais lá. Quando perguntei ao Sr. João o que tinha acontecido ele me disse que precisou devolver pois não estava dando o retorno esperado.
Voltei triste para casa, mas logo descobri uma locadora perto de casa que tinha uma versão de Golden Axe para o meu Master System.
Obviamente o port para o console caseiro de 8Bits da sega tinha diversas limitações, mas naquela época isso pouco importava para mim.
Finalmente teria a oportunidade de terminar o jogo e essa versão do Master foi a que eu mais joguei até hoje.
Volta e meia me pego novamente na jornada contra Death Adder nas versões de Arcade, Mega Drive ou mesmo a versão do Master System.
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