
Final Fantasy XV é um daqueles jogos que sempre geram discussões acaloradas. Lançado em 2016 após um desenvolvimento conturbado e uma série de promessas ambiciosas, o jogo chegou ao mercado incompleto, repleto de problemas narrativos e mecânicos que deixaram muitos fãs decepcionados. No entanto, quase uma década depois, com a Royal Edition e a Windows Edition, o game se transformou significativamente, tornando-se uma experiência muito mais completa e coesa. Ainda assim, a percepção negativa inicial parece ter ficado, e FFXV continua sendo um dos títulos mais injustiçados da franquia.
Neste artigo, seguirei uma ideia que quero explorar mais por aqui: falar sobre os jogos que estou jogando no momento. E Final Fantasy XV entrou novamente na minha lista, depois de duas tentativas frustradas de terminá-lo. Mas agora, na terceira tentativa, estou decidido a finalmente concluir essa jornada que, apesar dos problemas, sempre me fascinou. Afinal, se Noctis e seus amigos não desistiram diante do caos, eu também não vou!
Um Desenvolvimento Conturbado: De Final Fantasy Versus XIII a Final Fantasy XV
Se há um jogo da franquia Final Fantasy que pode ser chamado de problemático no desenvolvimento, esse jogo é Final Fantasy XV. A história da sua criação começa muito antes de 2016, lá em 2006, quando foi originalmente anunciado como Final Fantasy Versus XIII. Na época, ele fazia parte de um ambicioso projeto da Square Enix chamado Fabula Nova Crystallis, que englobava múltiplos jogos compartilhando elementos narrativos e mitológicos dentro do universo de Final Fantasy XIII. Diferente do jogo principal da saga, Versus XIII seria um RPG de ação mais focado na narrativa sombria de Noctis Lucis Caelum, um príncipe de um reino ameaçado por uma guerra devastadora.

Durante anos, Final Fantasy Versus XIII foi envolto em mistério, mas a cada novo trailer, a expectativa dos fãs só crescia. As cenas cinematográficas impressionantes e o sistema de combate dinâmico prometiam uma experiência diferenciada para a franquia. No entanto, os anos se passaram e as atualizações sobre o projeto se tornaram escassas. Entre 2006 e 2012, a Square Enix enfrentou dificuldades técnicas e mudanças internas que tornaram o desenvolvimento cada vez mais complicado. Com Final Fantasy XIII e suas sequências consumindo muitos recursos da empresa, Versus XIII ficou em segundo plano.
Em 2013, veio a grande reviravolta: o jogo foi reformulado e promovido a Final Fantasy XV. A Square Enix decidiu abandonar a conexão direta com Final Fantasy XIII e transformá-lo no próximo título principal da franquia. Esse anúncio trouxe um misto de alívio e empolgação, pois finalmente o jogo ganharia a atenção necessária para ser concluído. Mas essa transição trouxe seus próprios desafios, já que a equipe precisou adaptar anos de material a um novo escopo, agora visando uma experiência completa de mundo aberto.
Mesmo com a mudança de nome e status, Final Fantasy XV ainda sofreu com adiamentos e promessas cada vez mais grandiosas. O diretor original, Tetsuya Nomura, acabou deixando o projeto para se dedicar a Kingdom Hearts III, e o desenvolvimento passou para as mãos de Hajime Tabata. A Square Enix, por sua vez, intensificou a divulgação do jogo, apresentando trailers cada vez mais impressionantes, aumentando ainda mais a expectativa dos fãs. O marketing foi tão agressivo que até um filme em CGI (Kingsglaive) e um anime (Brotherhood) foram lançados para expandir a história antes mesmo do jogo sair.
Quando finalmente chegou ao mercado, em novembro de 2016, Final Fantasy XV era uma experiência fascinante, mas inacabada. Apesar do sistema de combate inovador e do mundo aberto belíssimo, a história tinha falhas evidentes e muitos momentos cruciais pareciam faltar. Para um jogo que levou uma década para ser lançado, a sensação de que ainda precisava de mais tempo de desenvolvimento era inevitável.

O Sucesso Comercial e a Recepção Dividida: Expectativa vs. Realidade
Quando Final Fantasy XV finalmente chegou ao mercado, ele quebrou recordes de vendas. Em menos de um dia, o jogo vendeu mais de 5 milhões de cópias, tornando-se o maior lançamento da franquia até aquele momento. Os números foram impressionantes e mostraram que a estratégia de marketing da Square Enix funcionou. Mas uma coisa ficou clara logo nas primeiras semanas: nem todos os jogadores estavam satisfeitos com a experiência. Apesar de sua popularidade e do sucesso comercial, FFXV recebeu uma recepção mista do público. Muitos fãs sentiram que o jogo não entregou tudo o que havia sido prometido, e a decepção foi proporcional ao tamanho do hype que a Square alimentou ao longo dos anos.
Vários fatores contribuíram para essa recepção dividida. O primeiro foi justamente o longo e conturbado período de desenvolvimento. Após 10 anos de espera e uma avalanche de trailers épicos, os jogadores criaram uma expectativa altíssima. E, sejamos sinceros, dificilmente qualquer jogo conseguiria corresponder a tanto hype. A cada novo anúncio, a empolgação crescia, e quando o produto final não entregou tudo o que os fãs imaginavam, a frustração foi inevitável.
Outro ponto que pegou mal foi a forma como a Square Enix decidiu contar a história. Para entender completamente a trama, era praticamente obrigatório assistir ao filme Kingsglaive e ao anime Brotherhood. Muitos jogadores entraram no jogo sem ter consumido esses conteúdos e se sentiram perdidos com a narrativa. Momentos cruciais da história simplesmente não estavam no jogo, o que deixou várias lacunas no enredo. Essa decisão de cortar conteúdo essencial e jogá-lo para mídias externas foi vista como uma jogada ruim da Square Enix, pois deixou a experiência base fragmentada e inconsistente.
Além disso, a “vibe” do grupo principal também dividiu opiniões. Noctis e seus três amigos—Ignis, Gladiolus e Prompto—tinham uma forte química, mas a estética e o tom do grupo, muitas vezes comparados a uma boyband em uma road trip, não agradaram a todos. Para alguns, a relação entre os personagens e o desenvolvimento da amizade ao longo do jogo foi um dos pontos altos da narrativa. Para outros, o conceito de acompanhar quatro caras de preto viajando pelo mundo soava estranho dentro de um Final Fantasy.
E por falar em road trip, o Regalia, o icônico carro do grupo, também foi alvo de críticas. A ideia de transmitir a sensação de uma viagem entre amigos era ótima no papel, mas na prática, os trechos de deslocamento inicial eram lentos e monótonos. O carro só podia ser dirigido dentro de estradas limitadas e levava muito tempo para chegar de um ponto a outro, tornando a exploração frustrante no começo. A montaria de Chocobo, que melhora um pouco essa experiência, só era liberada mais adiante no jogo. Além disso, a opção de viagem rápida só ficava disponível após visitar cada local pelo menos uma vez, o que não ajudava muito quem queria otimizar o tempo.
No final das contas, Final Fantasy XV era um jogo ambicioso, mas que sofreu com decisões questionáveis e uma expectativa inflada. Mesmo assim, a experiência ainda guardava muitos momentos memoráveis para quem se permitisse mergulhar na jornada de Noctis e seus amigos. Mas a redenção do jogo viria depois, com as versões aprimoradas que corrigiram muitas dessas falhas.

A Redenção: Royal Edition e Windows Edition – O Jogo Que Deveria Ter Sido Lançado
Mesmo com as falhas mencionadas anteriormente, é importante ressaltar que Final Fantasy XV nunca foi um jogo ruim. Ele tinha um combate divertido, um mundo aberto belíssimo e uma história emocionante (ainda que fragmentada). O problema foi a forma como chegou ao mercado: com uma narrativa cheia de lacunas, mecânicas inacabadas e a sensação de que o jogo foi lançado às pressas para evitar um novo adiamento. Mas a Square Enix não abandonou o projeto e, nos anos seguintes, trabalhou para entregar a experiência que os fãs mereciam. Foi assim que nasceram as versões Royal Edition e Windows Edition, que finalmente consolidaram FFXV como um RPG completo.
Lançada em março de 2018, a Final Fantasy XV: Royal Edition trouxe uma série de melhorias e novos conteúdos que expandiram significativamente a experiência original. As principais adições incluíram:
- Um final aprimorado: o capítulo final foi expandido, adicionando novas cutscenes e uma batalha final mais épica.
- Um novo mapa explorável em Insomnia: a cidade, que antes era apenas pano de fundo para a reta final do jogo, se tornou um verdadeiro campo de batalha com novas áreas para explorar e chefes opcionais desafiadores.
- A adição de um modo em primeira pessoa, permitindo uma experiência mais imersiva.
- O controle manual do barco Royal Vessel, que antes era apenas um meio de transporte automático. Agora, os jogadores podiam navegar livremente entre Altissia e Cape Caem.
- Todos os DLCs de história lançados até aquele momento, incluindo os episódios dedicados a Gladiolus, Prompto e Ignis, que expandiam a narrativa e preenchiam lacunas importantes na trama.
- O modo Armiger Unleashed, uma versão aprimorada do sistema de armas reais que tornava Noctis ainda mais poderoso.
- Novas armas, chefes e atividades, incluindo novas mecânicas de jogabilidade para tornar a experiência mais rica.
A Windows Edition, lançada no mesmo mês, trouxe todos esses conteúdos para PC com gráficos aprimorados, suporte a 4K e taxas de quadros mais altas, permitindo que a experiência de FFXV fosse aproveitada em sua melhor forma. Além disso, essa versão também incluiu suporte para mods, dando aos jogadores ainda mais liberdade para personalizar o jogo.
Se Final Fantasy XV tivesse sido lançado com todo esse conteúdo desde o início, a recepção teria sido completamente diferente. A narrativa ficaria mais coesa, os personagens teriam mais tempo para brilhar e o mundo do jogo pareceria mais vivo e imersivo. Infelizmente, muitos jogadores que se decepcionaram no lançamento nunca voltaram para conferir essas melhorias, deixando FFXV preso a um estigma injusto até hoje.
A Royal Edition e a Windows Edition são as versões definitivas de Final Fantasy XV, entregando a experiência completa que a Square Enix prometeu anos antes. Para quem nunca jogou ou abandonou o game no lançamento, vale a pena dar uma segunda chance. Afinal, apesar dos tropeços, FFXV sempre teve um grande coração—e agora ele finalmente tem o conteúdo para fazer jus à sua ambição.

Conclusão: Um Final Fantasy Digno e uma Experiência Que Vale a Pena
Hoje, quase dez anos depois de seu lançamento original, Final Fantasy XV é um jogo completo, belíssimo e extremamente divertido. Apesar de sua jornada conturbada, a versão definitiva que temos agora entrega a experiência que os fãs sempre quiseram. Com gráficos que ainda impressionam, um sistema de combate dinâmico e uma história que, com as expansões, finalmente faz justiça ao potencial do jogo, não há motivos para que ele seja considerado “indigno” da franquia Final Fantasy.
Se você jogou no lançamento e se frustrou, ou se nunca experimentou a aventura de Noctis e seus amigos, essa é a hora de dar uma chance para a versão definitiva. Final Fantasy XV: Royal Edition é a melhor forma de vivenciar essa jornada, e a Windows Edition potencializa tudo isso com gráficos ainda mais impressionantes. Além de tudo, este foi o primeiro Final Fantasy com legendas em português, o que torna a experiência ainda mais acessível. O jogo frequentemente entra em promoção na Steam e nos consoles, garantindo dezenas de horas de diversão — e se você quiser explorar tudo, incluindo o conteúdo adicional, pode facilmente ultrapassar 120 horas de jogo.
No final das contas, Final Fantasy XV sempre foi um jogo feito com muito coração. Agora que ele finalmente está completo, merece ser apreciado sem preconceitos. Então pegue sua espada, ligue o motor do Regalia e embarque nessa jornada. Noctis e seus amigos ainda têm muito para oferecer.