Sonic para o Mega Drive já era uma realidade e aquele jogo não saia da minha cabeça. Os poucos minutos que eu joguei foram suficientes para abastecer meu imaginário por meses. Parecia que nenhum outro jogo que eu experimentava para o Master System tinha o mesmo impacto nem mesmo aquela velocidade. Eu sabia que naquele momento um Mega Drive estava fora de cogitação, uma vez que meu Master System era relativamente novo, estávamos nos mudando para uma nova casa e todos os recursos financeiros seriam destinados à mudança.
Sonic para mim seria apenas na minha lembrança e nas revistas de Videogames que eu conseguia ter acesso vez ou outra.
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Foram muitas as vezes em que eu ficava imaginando como seria uma versão do Sonic para o Master System? Não lembro ao certo como eu recebi a informação, mas possivelmente foi através de uma revista:
O Sonic estava chegando ao Master System.
Fiquei em êxtase. Corri para a locadora mais próxima de casa onde eu tinha mais amizade com as donas e comentei sobre o lançamento. Elas precisavam trazer aquele jogo. Eu, no auge dos meus 10 anos de idade utilizando todos os argumentos que uma criança daquela idade poderia ter para convencer que seria uma boa compra com retorno rápido para a locadora.
Elas ganhariam dinheiro e eu poderia jogar o Sonic no meu Master System. Era óbvio! Pelo menos na minha cabeça. Saí da locadora com a promessa de que aquela compra seria analisada. Mas aquilo para mim não era o suficiente. Comecei a fazer lobby pelo Sonic de Master System em todas as locadoras que eu frequentava, e olha que não eram poucas.
Finalmente chegou a data de lançamento do jogo. Estava na hora de eu colher os frutos do meu “trabalho” era só ir até a locadora e alugar o cartucho. Corri para a Dica Video e estava na porta antes mesmo da locadora abrir. Esperei sentado na porta por alguns minutos que pareciam uma eternidade.
Quando finalmente abriu a decepção. Eles ainda não tinham o cartucho.
Mas eu não me daria por vencido. Ali no bairro tinham pelo menos mais umas cinco locadoras em que eu era sócio e estava fazendo campanha pela chegada do Sonic. Lá fui eu começando minha peregrinação de locadora em locadora tentando achar o ouriço mais rápido do mundo. Para minha decepção nenhuma delas tinha o jogo. Contudo algumas delas me disseram que já tinham feito a compra e chegaria nos próximos dias.
Voltei para casa levando comigo Kenseiden. Afinal de contas eu tinha que jogar alguma coisa enquanto não tinha o Sonic. Resolvi parar de alimentar minha ansiedade e esperaria mais uma semana antes de fazer uma nova incursão pelas locadoras do bairro.
E assim foi. No próximo fim de semana, já sem muitas expectativas comecei a percorrer as locadoras começando pelas mais próximas. Chegando na Dica Video a atendente sorriu ao me ver chegar e disse:
Tenho uma notícia boa para te dar. Compramos o Sonic para o Master System.
Meus olhos brilharam, minhas pernas tremeram, senti borboletas no estômago.
Ótimo! Vou alugar. Pode separar para mim por favor?
Infelizmente não vai ser possível, já está alugado. Mas deve voltar em breve.
Como assim? Isso não se faz com uma criança de 10 anos que já sofria de crises de ansiedade. Sai da locadora frustrado por não conseguir o jogo, mas feliz por pelo menos ter a chance de alugar em breve. Mesmo assim parti para as outras locadoras em busca do “Santo Graal” do Master System. E visita após visita minhas esperanças diminuam. Ou as locadoras ainda não tinham o jogo ou já estava alugado. Voltei para casa muito chateado naquele dia. Eu tinha que dar um jeito de pegar aquele jogo o quanto antes.
Nos dias seguintes passei a ir todos os dias nas locadoras. Na terceira ou quarta visita uma das sócias da Dica Vídeo vendo meu desespero que aumentava a cada visita frustrada pediu meu telefone e disse que me ligaria assim que o cartucho voltasse de locação para eu alugar. Que boa notícia! Assim não tinha erro. Eu chegaria e o cartucho estaria lá me esperando.
Só tinha um problema. Não tínhamos telefone em casa nessa época.
Foi então que abri minha mochila e tirei uma agenda de dentro. Não pensei duas vezes e passei o telefone de uma vizinha. Essa vizinha tinha passado o número do telefone para os meus pais, mas a condição era usar para recados apenas em casos de emergências. Aquilo era uma emergência. Meus pais me matariam? Talvez! Passei o telefone e não falei nada para ninguém.
Dois dias depois estava eu em casa por volta das 20:00hs quando a vizinha toca a campainha de casa. Minha mãe assustada correu para atender, conversou por 2 minutos no máximo no portão e voltou para dentro de casa com uma cara de poucos amigos. Eu nem me lembrava mais que eu tinha deixado o telefone dela na locadora. Meu pai preocupado quis saber do que se tratava aquela visita. Foi então que minha mãe olhou para mim e respondeu:
Nada demais. Ligaram da locadora e avisaram que o jogo que o seu filho estava procurando acabou de ser devolvido e está reservado para ele retirar.
Naquele momento fiquei feliz e comecei a calçar o tênis para ir até a locadora. Eu sabia que levaria uma baita bronca dos meus pais por ter usado o telefone da vizinha indevidamente, mas era por uma boa causa.
Como esperado meu pai me repreendeu e por um momento achei que ele não deixaria eu alugar o jogo, contudo algumas poucas explicações e uma carinha de coitado acabaram convencendo-o a me deixar pegar o Sonic. Sai literalmente correndo de casa, afinal de contas a locadora já estava para fechar.
Cheguei no balcão e a porta já estava meio fechada. A atendente sorriu para mim e já estava com o jogo prontinho na sacola me esperando e a ficha de locação pronta. Foi preciso apenas a minha assinatura. Lá fui eu de volta para casa feliz da vida. Finalmente eu conseguiria jogar o desejado Sonic do Master System.
Como naquela época eu estudava no período da tarde poderia jogar até tarde sem preocupação em acordar cedo no dia seguinte. Coloquei o jogo no meu Master e liguei o console. Bem diferente da versão de Mega Drive, mais cadenciada e mais simples visualmente. Contudo era linda!
A versão do Master System é a minha favorita até hoje.
Passei horas naquele dia jogando e no dia seguinte durante a aula ficava pensando no jogo que estava em casa me esperando. Fiquei com aquele jogo em casa por quase uma semana sempre renovando a locação. Certamente foi a versão que eu mais joguei do Sonic. Consegui terminar em pouco tempo, mas a busca pelas esmeraldas demorou um pouco mais. Valeu muito a pena toda a minha campanha para poder jogar essa perola do console de 8 Bits da Sega e ter vivido todo o Hype em torno do porco espinho mais rápido do mundo.