[dropcap]O[/dropcap] Ano era 1989, e aqui no Brasil os videogames estavam a todo vapor. O Atari 2600 e as suas dezenas de clones ainda estavam presentes na grande maioria das casas de crianças que jogavam e se divertiam com seus consoles.
Na minha casa não era diferente. Meu Atari 2600 era a minha diversão preferida e eu passava horas jogando todos os dias após a escola. Algumas vezes sozinho e outras tantas com meus amigos da rua ou da escola quando passavam o dia em casa para uma divertida tarde de jogatina.
Os consoles de 8Bits já eram uma realidade e estavam consolidados mundo a fora, principalmente no Japão e Estados Unidos, mas ainda estavam engatinhando por aqui.
Eu sabia da existência de consoles mais “potentes” que o Atari porque já tinha tido a oportunidade de jogar em um Famicom importado na casa de um amigo da escola, mas aquilo parecia tão distante da minha realidade que nem mesmo cheguei a vislumbrar a possibilidade de um dia ter um daqueles na minha casa.
No Brasil, ao final dos anos 80 o acesso a informações sobre jogos e consoles era escassa e de difícil acesso. Não tínhamos revistas sobre videogames e obviamente a internet ainda era um sonho. Sendo assim o pouco que sabíamos era através das conversas durante o recreio na escola.
Em uma manhã ensolarada de sábado saí de casa para poder brincar um pouco na rua. Afinal de contas segurar uma criança no auge dos seus 8 anos de idade em casa durante o fim de semana todo era uma tarefa difícil. Mesmo para o meu querido Atari 2600.
Encontrei meu vizinho Ricardo sentado em frente à sua casa com uma expressão de tédio.
Talvez pelo fato de Ricardo ser alguns anos mais velho do que eu nós não tínhamos muita amizade, mas por algum motivo mágico naquele dia sentei ao lado dele e comecei a puxar conversa já que eu também estava sem ninguém para brincar.
Não demorou muito e o assunto acabou sendo direcionado para os videogames. Ricardo me dizia que não gostava muito de jogar pois não tinha paciência de ficar muito tempo sentado em frente à TV.
– Como Assim? Acho que por isso não somos grandes amigos. – Pensei naquele momento.
Eu ao contrário dizia para Ricardo que amava jogar e inclusive contava detalhes dos jogos que eu tinha para o meu bom e velho Atari. Foi então que Ricardo me contou que seu pai tinha lhe dado um videogame novo cerca de 4 meses atrás. Um tal de Master System.
Eu não fazia ideia do que era um Master System, mas não poderia deixar passar a oportunidade de descobrir. Naquele mesmo momento convidei Ricardo para uma jogatina e claro para ele me mostrar seu novo videogame. Sem demonstrar muita empolgação ele me disse que não poderia jogar pois sua mãe estava limpando seu quarto e ainda levaria um tempo para terminar.
– Sem problemas. Pega seu videogame e leva para minha casa. – Eu disse.
– Podemos jogar lá! – Respondeu Ricardo.
E assim aconteceu. Aproximadamente 20 minutos depois já estávamos jogando Master System. Era a primeira versão lançada pela Tectoy com Hang On e Safari Hunt na memória. Ricardo não tinha nenhum cartucho adicional, mas também não precisava. Aqueles dois jogos eram sensacionais. Tudo parecia Real. E aquela sensação de atirar com a pistola Light Phaser direto na tela da televisão era demais. Coisa de filme.
Passado algum tempo, onde eu joguei muito mais do que Ricardo, meu pai chegou do trabalho e em um primeiro momento não entendeu muito bem o que estava acontecendo na sala da sua própria casa.
– Que videogame era aquele? – Ele se perguntava.
Eu expliquei empolgado que era a última novidade em videogames e que o console pertencia ao Ricardo. Meu pai que sempre me incentivou a acompanhar as evoluções da tecnologia ficou encantado com aquela belezinha da Tectoy. Não demorou muito e Ricardo vendo ali uma oportunidade de negócio perguntou para o meu pai se ele não queria comprar o console e me dar de presente, já que estava encostado e pegando pó na casa dele.
Impossível, pensei comigo. Mas para minha surpresa meu pai se interessou e acabou entrando em negociação. Alguns minutos depois meu pai e eu estávamos na casa do Ricardo conversando com o pai dele e fechando o negócio. Assim, sem programar, sem esperar, sem nenhuma data especial eu tinha ganhado um Master System novinho. Caixa, manuais, pistola Light Phaser…tudo!!!!!
Meu pai as vezes tinha esses rompantes impulsivos e nunca mediu esforços para agradar os filhos. Sempre trabalhou duro para nos dar uma vida muito boa. Sem contar que por coincidência ou magia, ele havia voltado de um dia de horas extras na empresa e estava com um dinheirinho a mais na conta.
Voltei para casa carregando as caixas vazias, já que o console nem chegou a sair da minha sala. Aquela caixa branca e toda quadriculada com o logotipo amarelo da Tectoy era linda. A alegria e euforia tomava conta de mim de tal maneira que eu nem consegui dormir aquela noite.
Na verdade, eu tive um medo irracional, coisa de criança mesmo, de dormir e quando acordar descobrir que tudo não tinha passado de um sonho. Para me acalmar meu pai e minha mãe organizaram as caixas ao lado da minha cama para que eu pudesse dormir com as mãos tocando meus mais novos tesouros.
E foi a partir daquele sábado ensolarado de 1989 que a minha jornada com o console de 8Bits da Sega começou.
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