Minha primeira experiência com os videogames ocorreu no ano de 1984, eu tinha 3 anos e ganhei de presente do meu pai o meu primeiro Videogame, um Atari 2600 da Polyvox. Com o console eu ganhei alguns jogos. Posso me lembrar muito bem do Enduro, que já vinha com o console, Pitfall, River Raid e Frostbite. Não me lembro exatamente qual, mas certamente o primeiro jogo da minha vida foi um desses quatro.
Me lembro muito bem da arte linda nos cartuchos da Activision.
A imagem do esquimó saltando e fugindo de um urso no cartucho Frostbite me fascinou de uma maneira, que me lembro dela com carinho até hoje. Mesmo com a pouca idade, me lembro de ficar imaginando o tamanho da aventura que eu poderia fazer parte ajudando aquele pobre homenzinho magrelo a construir a sua casa (Na verdade um Iglu) e fugir do terrível urso polar.
Não sei porque, mas em 1984 o esquimó do jogo que aparecia na TV, lembrava muito o boneco que apareciam nas caixas de hambúrguer da Sadia ou Perdigão.
O Atari 2600 no Brasil teve várias versões oficiais e clones lançados, consequentemente muitas caixas diferentes foram produzidas. Me lembro especialmente da caixa do meu console. Na parte traseira haviam Screenshots de diversos jogos com os seus respectivos nomes.
Eu adorava ficar contemplando aquela caixa por horas imaginando o quão legal seria poder conhecer aqueles jogos.
Com a pouca variedade de jogos disponíveis naquele momento eu me contentava com o que tinha ganho com o Videogame. Provavelmente o jogo de Atari que eu mais joguei na minha vida foi o Frostbite. Minha tia e meus pais diziam que eu jogava muito bem, e eles ficavam impressionados com isso, porque afinal de contas eu tinha entre 4 e 5 anos.
Meu pai chegou a cogitar seriamente sobre me inscrever para participar de campeonatos com premiação. Eu realmente jogava muito bem esse jogo, melhor até que os adultos ou crianças mais velhas que jogavam comigo. Jogo esse jogo até hoje e sempre tento quebrar o meu próprio recorde. Frostbite ainda é uma das minhas paixões.
Não me lembro muito bem o motivo, mas por volta dos meus 5 anos meus pais me disseram que eu iria ganhar alguns cartuchos de presente. Fui para a escola naquele dia no período da manhã, mas não conseguia pensar em nada além de chegar em casa e poder jogar novos jogos.
Nunca 5 horas na escola demoraram tanto para passar. Sim, minha ansiedade me acompanha desde os primeiros anos de vida. Ao chegar em casa fui correndo para a sala e haviam muitos cartuchos espalhados no sofá. Fiquei impressionado com a quantidade de jogos que meu pai havia comprado.
Mas também me lembro de ficar um pouco frustrado porque todos os cartuchos tinham a mesma arte. A única coisa que identificava os cartuchos era o nome do jogo na Label da parte superior. Todos os cartuchos dessa compra eram da marca CCE e essa arte nos cartuchos eram marca registradas da empresa na época, assim como a cor branca dos cartuchos.
De qualquer forma naquele dia joguei a tarde toda e passei por todos os jogos. Essa sensação de abrir e testar jogos novos me acompanha até hoje.
As gerações avançaram, a tecnologia evoluiu absurdamente, mas aquela sensação ainda é a mesma, graças a Deus!
Por volta dos meus 8 anos de idade fui apresentando ao aparelho que para mim era a melhor invenção de todos os tempos, pelo menos no que diz respeito aos videogames.
Certo dia meu pai apareceu em casa com um cartucho diferente do Atari, um cartucho que tinha o dobro do tamanho de um cartucho normal, todo preto e com a inscrição “Super Charger” impressa na frente. Fiquei imaginando que tipo de jogo fantástico poderia armazenar um cartucho daquele tamanho. Fiquei maravilhado quando vi meu pai conectar aquele cartucho no nosso Atari e ligar um cabo P2 ao nosso gravador de fitas cassete.
Me lembro de estar muito ansioso para ver aquilo funcionar! Meu pai então pegou uma fita cassete, dessas que usávamos para ouvir músicas e me disse que aquela pequena fita tinha mais de 50 jogos. Cuidadosamente inseriu a fita no gravador, ligou o Atari e apertou o play no toca fitas.
Imediatamente a tela da TV mudou de cor para um verde claro, depois laranja, e faixas azuis começavam a preencher a tela vindo de ambos os lados até completarem completamente a tela. Essa era a primeira tela de Loading que eu via na minha vida, e é óbvio que eu não fazia ideia do que era aquilo, mas quando a tela foi completamente tomada pelas barras azuis um novo jogo apareceu na tela.
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Meu pai então apertou o botão Stop do gravador e ficamos jogando por um tempo. Confesso que não me lembro qual era o jogo, mas acho que era Joust. Meu pai então fez um Reset no Atari e lá estava novamente a tela do Super Charger. Ao pressionar Play novamente no gravador novamente o Loading se iniciou e um novo jogo foi carregado, com a mesma fita cassete. Aquilo era fantástico.
Fiquei ainda mais maravilhado quando meu pai me disse que as fitas poderiam ser copiadas. Ele havia trazido mais 3 fitas de 60 minutos cada, o que dava aproximadamente 150 jogos no total! Meus olhos brilharam. Aquilo era um tesouro sem tamanho. Me lembro até hoje da cor das fitas, eram duas pratas e uma toda preta. Todas da marca TDK.
Meu pai havia pego as fitas emprestadas de alguns amigos que trabalhavam com ele para fazer a cópia. Para possibilitar que os jogos fossem escolhidos de maneira precisa, sem depender do fator sorte, ele fez uma lista com o nome de todos os jogos e a posição em que eles estavam gravados na fita utilizando o contador do toca fitas.
Então havia uma lista em folha almaço, com o nome do jogo, o nome da fita e a posição em que estava gravado. Sendo assim quando queríamos jogar um jogo específico, escolhíamos a fita, avançávamos no toca fitas até o número correto do contador e apertávamos o play.
Em 2 minutos o jogo explodia na tela!!
Me lembro que essa lista foi cuidadosamente datilografada por uma tia minha depois de um tempo. Me lembro também que nessa leva de jogos um dos que me chamou mais atenção foi Mario Bros. Sim esse foi meu primeiro contato com o encanador da Nintendo. Como esquecer?
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Com tantos jogos disponíveis para jogar naquele momento eu comecei a encontrar alguns em que a compreensão era difícil e eu não conseguia evoluir ou mesmo entender qual a proposta do jogo. Acreditem ou não, mas em 1985 os jogos não tinham tutoriais. E não era simples descobrir qual era o objetivo de cada jogo ou mesmo ter alguma ideia de qual era a história que determinado jogo queria contar. Lembrem-se que estamos falando de jogos com cerca de 8Kb de tamanho, em alguns casos 4Kb.
A grande maioria dos jogos comprados no mercado nacional não vinha com um manual de instruções e os cartuchos que vinham de fora tinham o manual todo em inglês e pouquíssimas pessoas tinham algum domínio do idioma na década de 80.
Alguns cartuchos como os da Activision tinham um lindo e detalhado manual, mas era raro ter um desses.
Não sei ao certo onde meu pai conseguiu, mas um belo dia ele trouxe para casa uma pasta com diversos papeis. Fiquei curioso para saber o que era aquela pasta de elástico na cor azul. Quando eu abri aquilo me deixou maravilhado. Eram cópias em português de uma série de manuais de jogos que eu tinha em casa.
Nesse momento um novo horizonte se abriu. Comecei a buscar pelos manuais dos jogos que eu não conseguia jogar e dedicar um tempo na leitura. Muita coisa começou a fazer sentido a partir da leitura desses manuais, e outras não.
Mesmo para os jogos que eu já jogava eu achava legal ler o manual e entender qual era a estória por trás de cada aventura.
Nas linhas dos manuais a aventura se tornava muito mais épica. Outra diversão que me ajudava a passar o tempo era pegar os manuais e colorir os desenhos. Como as cópias que meu pai havia trazido eram todas em preto e branco eu me divertia pintando os desenhos dos meus jogos preferidos.
Olhando tudo isso que ficou no passado e em um lugar especial no meu coração eu entendo a minha paixão pelos jogos. Foram anos maravilhosos e ótimas recordações de um tempo onde a vida era mais simples.