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Enfim, 64 bits!

Crônicas de um Boteco - Enfim, 64 bits!

O ano era 1996, o ápice da “hype” do Nintendo 64. Eu estava na sétima série e já tinha meu grupinho de amigos jogadores de vídeo-game formado pelos amiguinhos da escola. Íamos na Progames de quinta feira e alugávamos vários cartuchos, na mesma ficha, para aproveitar a promoção e devolver na terça feira.

Ou seja, só ficávamos um dia, a quarta feira, sem jogar.

Aí a gente batia uma bolinha no campinho de areia. Nesse meio tempo, nós trocávamos entre nós os cartuchos que terminávamos e nos fins de semanas jogávamos todos juntos. Nessa brincadeira devoramos a biblioteca do super Nintendo em quase sua totalidade.

Vivenciamos toda a hype dos lançamentos da época: vimos chegar os “Mortal Kombat”, “Killer”, “StarFox” e o seu revolucionário chip superFx, os “Donkey Kongs”. Nossa fonte de pesquisas eram as revistas, principalmente a Super Game Power e Ação Games e graças a Progames – aquela rede de locadoras que fazia o milagre (ou bruxaria) de trazer os lançamentos quase que simultaneamente dos Estados Unidos para o Brasil – colocávamos a mão nesses cartuchos que eram objetos de desejo mundialmente.

A bola da vez agora era o novo vídeo-game da Nintendo. A cada artigo que as revistas noticiavam sobre o “Project Reality” depois “Ultra 64” e posteriormente o nome definitivo “Nintendo 64”.

Nossa ansiedade aumentava mais e mais.

A internet começou a engatinhar nessa época, e nós pagávamos para ir numa escola de computação usar a internet durante 1 hora, 1 vez por semana, só para visitar e trazer uns papeis impressos do site da Nintendo e materiais Gringos sobre o Nintendão. Passávamos horas depois com o dicionário na mão tentando traduzir e entender o que estava escrito.

Quando lançaram o Donkey Kong Country para o Super, muito se falou de como aqueles gráficos lindos foram colocados lá, como a Rare conseguiu fazer aquela magia!? Era tudo culpa das Estações da Silicon Graphics que renderizavam o 3D em que eram feitos os Sprites e esses por sua vez eram colocados no Super Nes.

Donkey Kong Country
Donkey Kong Country

Estas estações eram as mesmas que faziam os efeitos especiais dos filmes do cinema. E imagina só… O ultra 64 era baseado nessas estações!

Iríamos ver aqueles gráficos sendo renderizados em tempo real e não mais uma foto deles!

Foi a primeira vez que ouvimos falar de “Anti-Aliasing” e Filtro “Bilinear” em um console. Apesar deste “Anti-Aliasing” tem envelhecido muito mal, tenho que admitir que na época foi transgressor, um tremendo salto tecnológico. Para deixar a gente mais doido ainda, chegaram os 2 arcades com a placa “ultra 64” na cidade: Cruis’n usa e Killer Instinct. Pudemos ter a ideia do maquinão que o 64 iria ser!

Wireframe Donkey Kong

O próximo passo era convencer meu pai que eu precisava de um vídeo-game novo! Depois de muito pedir, chegamos a um acordo: ele bancaria metade desde que eu me virasse para arrumar um trabalho e bancar a outra metade até o natal.

Hoje, depois de adulto, sou muito grato por essa lição, me ensinou a dar valor nas coisas – éeeeee meu velho sabia das coisas!

Comecei então a fazer uns serviços de computador para uma gráfica de um pai de um amigo e ainda pegava os bicos de panfletar a rua quando o cliente dele pedia este serviço e foi assim durante o ano todo.

Pouquíssimo tempo depois do lançamento, que foi em outubro de 96, descobrimos que irmão mais velho de um dos coleguinhas de classe havia comprado o tal “Nitendo 64”. O console veio direto dos Estados Unidos e estava lá na casa dele com o novíssimo Mario 64. Imediatamente toda a nossa turma juntou nele e imploramos para ver de perto. O nosso colega de classe disse que ia falar com o irmão mas não tinha problema não.

A ansiedade estava acabando conosco, mal conseguíamos prestar atenção na aula. Depois iríamos para casa, almoçar, pegar as bikes e como naqueles filmes dos anos 80 com garotos e suas bicicletas vivendo aventuras, fomos a casa do amigo. Só que ela ficava num bairro vizinho que a interligação ainda não estava construída. Poderíamos ter ido de ônibus pelo caminho mais longo, mas e a aventura? Passamos pelo mato, depois por obras de uma construção de um parque ecológico, subimos morros de terra vermelha, passamos em meio aos canos de concreto que estavam utilizando para canalizar o córrego e depois de muito sol na cabeça, chegamos.

Filme Stand By Me (1986)

Esperamos do lado de fora da casa até nosso amigo falar com o irmão ansiosos e pensando: “ahhh é agora!”. Então, ele voltou e disse que sua mãe estava limpando que poderíamos jogar bola na rua enquanto isso. Este colega em questão não dava a mínima para vídeo-games e estava bem feliz de alguém ter ido até lá no bairro dele brincar com ele. Cutucamos ele mais algumas vezes para ir ver o Nintendo mas ele nem aí, estava muito feliz jogando bola com os amigos.

Anoiteceu! Voltamos embora pelo matagal escuro e tristes por não ter visto o 64.

Ainda fizemos essa aventura algumas vezes na esperança de conseguir ao menos ver como era a imagem do Mario em 3D. Mas sempre era uma desculpa diferente. Chegamos a pensar que era mentira do garoto que o irmão dele tinha o console, mas um dos dias, ele levou para fora da casa o controle e o cartucho do Mario para a gente poder ver.

Foi o máximo que conseguimos.

 

Nintendo 64
Nintendo 64

Então, nos primeiros dias de dezembro, eu consegui juntar a minha metade do dinheiro depois de muito trabalhar e andar pelas ruas panfletando. Cheguei correndo em casa e naquela noite mesmo fui com meu pai na locadora comprar o meu tão sonhado Nintendo 64. Apenas um controle, sem cartucho e com desconto para pagamento a vista, foi possível comprar! Alugamos o game Turok aquela noite para testar o brinquedo novo.

 

[embedyt] https://www.youtube.com/watch?v=cOVpcC8GwXM[/embedyt]

Chegando em casa, meus amigos da escola da turma do vídeo-game estavam lá me esperando, e pudemos testar juntos esse jogão pela primeira vez e babar nos gráficos lindos. Todos jantaram na minha casa e ficamos até tarde da noite jogando. No outro dia de manhã na escola a felicidade estava estampada no rosto dos garotos, olhávamos uns para os outros e com um sorriso no rosto e fazendo “sim” com a cabeça, mas sem dizer qualquer palavra pensávamos: o Nintendo 64 é FoD@ Mesmo!!!!

Enfim, 64 Bits!

Meus amigos conseguiram seus 64s no natal também, uns trabalhando, outros ganhando dos pais, mas o importante é que nossos alugueis na Progames agora iam ser de Cartuchos de Nintendo 64!

Deixo essa crônica como presente de aniversário para meu pai! Que um dia a gente possa se reencontrar!

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Postado por Renato Guardia

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